Cromatografia Líquida - Artigos

Você vai colocar ÁCIDO na fase móvel ?
Sidney Pacheco



É bastante comum em cromatografia líquida a utilização de modificadores de fase móvel, que podem ser ácidos, tampões e, menos comum, bases. Quando em se tratando da utilização de acidulantes, em geral são utilizados ácidos orgânicos, como os ácidos fórmico e acético, ou ácidos minerais, como os ácidos fosfórico e sulfúrico. Mas qual a razão de se utilizar um modificador ácido na fase móvel ? Por conter partes metálicas, tubulações, parafusos e partes da bomba analítica, isto não poderia comprometer a integridade do sistema cromatográfico ?

Ácido corrosivo

Ionização do Ácido Benzóico no ânion Benzoato

Para entender o principal motivo da adição de ácidos na fase móvel vamos usar o ácido benzoico como exemplo.
Quando em solução, o ácido benzoico sofre ionização formando o íon benzoato (Figura ao lado). Na prática, as duas formas coexistem em equilíbrio químico. Se imaginarmos que desejamos fazer a separação cromatográfica do ácido benzoico, e este estiver ionizado, teremos as duas substâncias presentes, o Ácido benzoico e o ânion benzoato. Sendo assim, esperasse em uma corrida cromatográfica obterem-se dois picos.

De fato o que acontece é a presença de um pico bastante alargado, e isso não é nada interessante em cromatografia. A adição de ácido na fase móvel acaba por deslocar o equilíbrio entre as duas substâncias, favorecendo a presença do ácido benzoico (Figura ao lado).

Deslocamento do equilíbrio químico na ionização do Ácido Benzoico

A acidificação da fase móvel é então sempre sugerida quando se deseja separar substâncias com hidrogênios ionizáveis, como ácidos carboxílicos, fenóis, álcoois, etc. Os picos obtidos sempre serão muito mais finos e intensos. A escolha do ácido vai ser de acordo com a força ácida da substância que se está analisando, quanto menor o pka da substância, menor tem que ser o pka do modificador, ou seja, mais forte terá que ser o ácido.
Todas as partes metálicas dos cromatógrafos são construídas em aço inoxidável, que tolera bem soluções ácidas. A exceção é o ácido clorídrico, que nunca deve ser utilizado. Não se esqueça de verificar também o manual da coluna cromatográfica que está utilizando, ele traz recomendações de modificadores e a faixa de pH que a fase estacionária resiste sem ser degradada.

Abaixo segue um exemplo prático, a separação do ácido gálico. A mesma solução de ácido gálico preparada foi injetada inicialmente sem adição de ácido na fase móvel, em seguida ela foi injetada com adição de 0,5% de ácido acético na fase móvel.

Cromatograma Ácido Gálico sem ácido na fase móvel Cromatograma Ácido Gálico com ácido acético 0,5% na fase móvel

É bastante evidente o ganho de resolução e sensibilidade. Após a acidificação da fase móvel o pico do ácido gálico se tornou simétrico, fino e muito mais intenso. Quando você se deparar com um pico alargado e duplicado lembre-se: a culpa nem sempre é da coluna !

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